ATA DA OITAVA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 05.08.1993.

 


Aos cinco dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e três reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Oitava Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às dezesseis horas e quatorze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a entregar o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Doutor Nilo Salatino, conforme Projeto de Resolução n° 07/93 (Processo n° 844/93), de autoria do Vereador Luiz Braz. Compuseram a Mesa: Vereador Wilton Araújo, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Doutor Marcelo Generalli da Costa, Coordenador da Área de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde e Serviço Social, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; Jornalista Firmino Sá Brito, representando a Associação Riograndense de Imprensa; Doutor Nilo Salatino, Homenageado; Senhora Dorilda Machado Salatino, esposa do Homenageado; Vereador Luiz Braz, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. Como extensão de Mesa, o Senhor Presidente registrou a presença, no Plenário, de José Maria, Nilda Maria e Fernando, e de Marcella, Jeferson e Renan, filhos e netos do Homenageado. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional, e pronunciou-se acerca da presente solenidade, dizendo representar ela o reconhecimento da comunidade de Porto Alegre, em especial da Zona Sul da Cidade, ao Doutor Nilo Salatino, concedendo a palavra aos Vereadores que falaram em nome da Casa. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPR, disse que todos os presentes conhecem e admiram o trabalho do médico hoje homenageado, destacando a dedicação e responsabilidade exigidas muito particularmente daqueles que optam pela atividade médica. Discorrendo sobre a atuação profissional do Doutor Nilo Salatino, disse ser o Título Honorífico ora por ele recebido o justo agradecimento dos porto-alegrenses pelo trabalho desenvolvido por Sua Senhoria em prol da nossa comunidade. O Vereador Jair Soares, em nome da Bancada do PFL, agradeceu ao Doutor Nilo Salatino por sua atuação como médico sanitarista, declarando ter ele transformado seu trabalho em verdadeiro sacerdócio, tal a dedicação com que exerceu suas atividades. Neste sentido, destacou a importância do Homenageado, dizendo ter o combate por ele empreendido contra a difteria, o tétano, a meningite e outras doenças diretamente ligadas a saúde pública, alterado o panorama sanitário do Rio Grande do Sul. O Vereador Luiz Braz, em nome das Bancadas do PTB, PDT, PT, PMDB, PPS e PC do B, disse ser o Doutor Nilo Salatino um exemplo claro de “médico da família”, caracterizando sua atuação pelo carinho e respeito sempre demonstrado aos seus pacientes e aos familiares dos mesmos. Salientou a atuação do Homenageado junto ao Clube de Serviços em Santa Flora, traçando uma retrospectiva da sua vida profissional. Ainda, convidou a pronunciar-se a Senhora Ruth Ricardo Brum, representante do Movimento dos Clubes das Mães, a qual agradeceu ao Doutor Nilo Salatino, pela dedicação e carinho com que sempre pautou seu trabalho. Após, o Senhor Presidente registrou a presença, no Plenário, dos ex-Vereadores Frederico Barbosa e Ervino Besson, e convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega do Diploma referente ao Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Doutor Nilo Salatino, que agradeceu a Homenagem prestada pela Casa, falando sobre os problemas enfrentados pela saúde pública no Brasil e sobre o amor que sente pela atividade profissional por ele assumida. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a Senhora Ruth Ricardo Brum a proceder à entrega de flores ao Homenageado, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezessete horas e seis minutos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Wilton Araújo e secretariados pelo Vereador Luiz Braz, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Luiz Braz, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1° Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Vamos dar início a esta Sessão Solene destinada a homenagear o Dr. Nilo Salatino. O Requerimento, aprovado por unanimidade desta Casa, é de autoria do Ver. Luiz Braz.

Como extensão da Mesa, os filhos do homenageado, José Maria, Nilda Maria e Fernando; e os netos do homenageado, Marcella, Jeferson e Renan, sentam-se à Mesa conosco.

Num primeiro momento, solicitaríamos que todos, de pé, ouvissem o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (Wilton Araújo): Gostaríamos de registrar a presença dos Vereadores: Luiz Braz, proponente, que já está na Mesa conosco, Jair Soares, João Dib, Guilherme Barbosa e Jocelin Azambuja.

Queremos também registrar a presença do Dr. Hélio Serafim Flores Lovato, Governador do Lions Club Santa Flora; Mário Ramos; a Presidente do Clube de Mães São Luís, Srª Nilza Coral.

Hoje, a Câmara Municipal de Porto Alegre reúne nesta Sessão Solene seus representantes, os representantes do povo da Cidade de Porto Alegre, que como já disse, aprovaram, por unanimidade, a proposição do Ver. Luiz Braz, dando, reconhecendo, traduzindo em formalidade, que certamente toda comunidade de Porto Alegre, e em especial a de Nonoai, na Zona Sul da Cidade, já havia reconhecido este grande médico, esse humanista, essa pessoa que dedicou cada minuto de sua vida aos outros, à comunidade, aos que o cercam. A Câmara nada mais faz hoje do que, bem representando a comunidade, formalizar, traduzir em um Título o trabalho de uma vida. Passaremos aos oradores que representarão a Casa e suas bancadas e honrar-nos-ão com seus pronunciamentos. Com a palavra o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Ver. Wilton Araújo. Caro homenageado de hoje, Dr. Nilo Salatino e sua esposa Dorilda Machado Salatino. Sr. representante do Prefeito Municipal, Dr. Marcelo Generalli da Costa. Meu caro amigo jornalista Firmino Sá Brito, uma das pessoas mais presentes nas nossas solenidades; Sr. Vice- Presidente da Câmara Municipal, Ver. Luiz Braz, que foi o proponente desta merecidíssima homenagem e, por extensão da mesma, os filhos do homenageado José Maria, Nilda Maria e Fernando e netos do homenageado, Marcela, Jeferson e Renato. Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores.

Evidentemente que não vou dizer das qualidades do Nilo Salatino porque todos que aqui estão são seus amigos, conhecem a vida maravilhosa deste homem que tem dado muito de si em benefício da coletividade ao qual ele pertence e vive. Devo dizer ao Nilo Salatino que amigos seus queriam estar nesta tribuna, como Luiz Vaz da Silva, mas não pode, é anti-regimental. Vários amigos queriam vir a esta tribuna exaltar as qualidades do Nilo Salatino, vejam o carinho que tem, não só dos Vereadores que foram unânimes na aprovação deste título, mas os seus amigos que lhe queriam falar para dizer do apreço, do respeito e do carinho a essa pessoa que serve a todos nós.

Aprendi com o nosso amigo comum, José Loureiro da Silva, que a idade de um homem não se mede pelo espaço de tempo que medeia entre o berço e o momento. A idade de um homem se mede de uma maneira muito diferente, é pelas suas alegrias, decepções, emoções, momentos de glória e aí o homem tem a idade multiplicada por 2, 3 por 5 ou é extremamente jovem e acumulando juventude até usa com força e vigor a experiência acumulada. E o nosso amigo Nilo Salatino deve contar, por certo, com grandes momentos de emoção, porque um médico tem, é um profissional compenetrado, tem que ter uma série grande de satisfações e de emoções, a vida dele não se cinge aos anos que o calendário determina, mas, sim, por aquelas alegrias todas que ele teve, e que há de ter muito mais ainda, fazendo com que ele seja extremamente feliz e nós ficamos contentes com isso. Eu falei em momentos de glória e este, por certo, é um dos momentos de maior glória de Nilo Salatino, quando a Cidade de Porto Alegre reconhece a seriedade de seu trabalho, o carinho e o desprendimento de seu trabalho e lhe diz que passa a ser um dos seus mais novos Cidadãos de Porto Alegre. E este momento de glória tem que ser depositado na conta de poupança da vida, porque nós vamos ter outros momentos que não serão tão gloriosos, serão difíceis, exigirão esforço de todos para que se resolvam. E o Nilo Salatino pode colocar, neste momento, um momento de glória na sua conta de poupança da vida. Mas é claro que o Salatino, que é um homem desprendido, vai dividir com a D. Dorilda, que sempre o acompanhou em todos os momentos, vai dividir com seus filhos, José Maria, Nilda Maria e Fernando, vai dividir com seus netos, Marcella, Jeferson e Renan. E esses jovens tem a responsabilidade de seguir este homem que é respeitado pela coletividade. Então, hoje está se fazendo justiça, ao mesmo tempo, nós estamos dizendo aos jovens aqui citados que eles têm de acompanhar o exemplo do pai e avô que colocou a coletividade em que vive, muitas vezes, acima de seus interesses pessoais.

Então, o nosso Nilo Salatino recebe, hoje, esta homenagem simples desta Casa, que deveria estar superlotada, todo o bairro Nonoai deveria estar aqui, mas a nossa vida é agitada e não estão todos aqui, mas estão de coração e todos dizendo: o Nilo Salatino é um homem bom, um homem sério, justo e merece a homenagem que lhe tributa a Câmara de Porto Alegre, neste momento de glória. E que o Nilo Salatino entenda que a grande dificuldade do momento em que vivemos é o cansaço dos bons. E o Nilo Salatino não pode cansar, tem que continuar sendo o mesmo homem que foi até agora, mas nós temos certeza de que com o apoio da esposa, dos filhos, dos netos e dos amigos ele, não digo que ele vá ser melhor porque ele é muito bom, não precisa ser melhor do que isso, vai continuar sendo o que é. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador que falará em nome da Casa e em nome do seu Partido, o PFL, Ver. Jair Soares.

 

O SR. JAIR SOARES: Sr. Presidente. Ver. Wilton Araújo; Exmo Sr. Homenageado, e, Exma esposa, Dr. Nilo Salatino e Srª Dorilda Machado Salatino; Sr. representante do Sr. Prefeito de Porto Alegre, Dr. Marcelo Generalli da Costa, Coordenador da área de saúde; meu prezado amigo, representante da Associação Rio-grandense de Imprensa, Jornalista Firmino Sá Brito; meu prezado colega e Vice-Presidente desta Casa, autor da concessão do título ao Dr. Nilo Salatino, Ver. Luiz Braz; saúdo os filhos do homenageado, José Maria, Nilda Maria e Fernando; e netos do homenageado, Marcella, Jeferson e Renan como extensão da Mesa; meus prezados colegas Vereadores; senhores convidados.

Tenho pautado minha atuação nesta Casa, via de regra, por utilizar o menos possível esta tribuna. Não que não me seja agradável poder representar o povo de Porto Alegre, não porque não me seja legítimo falar sobre os assuntos de Porto Alegre, mas, simplesmente, porque me tracei, ao aqui chegar, a norma de procurar dentro da humildade, que é característica do político rio-grandense, as minhas atitudes.

Mas, hoje, Sr. Presidente, fujo, mais uma vez, e foram escassas essas vezes, fujo à regra de indicar o autor para falar em nome do meu Partido. E falo com o coração aberto. Falo para homenagear Nilo Salatino, o médico sanitarista que eu conheci nos idos de 1971, como amigo, antes de ser chefe por mim nomeado, quando dirigia a Saúde Pública do povo rio-grandense. Falo a esse médico sanitarista por vocação que fez do exercício da medicina um sacerdócio. Falo com o coração compungido, porque sei das lides desta área social tão difíceis e do trabalho que realizou. Foi a modificação do Código Sanitário, que datava de 1939, que juntos fizemos; foi a introdução daquelas vacinas que antes não eram alcançadas pelas crianças do nosso Estado; foi o combate a essas doenças no seu dia-a-dia, Nilo Salatino, que eu aprendi a conhecer a verdadeira vocação do homem que hoje é homenageado; foi na trincheira da vida, na luta do dia-a-dia, no combate à difteria, ao tétano, à coqueluche, à rubéola, ao sarampo, à tuberculose, à meningite meningocócica, ao Mal de Hansen, enfim, foram naqueles dias em que mudamos, juntos, com a grande equipe da Secretaria da Saúde, o panorama sanitário do Estado. Por isso, caro homenageado, estou aqui, junto com meus pares e com seus amigos, para numa voz uníssona, dizermos o nosso muito obrigado.

Feliz do homem que, em vida, pode receber o reconhecimento da sua comunidade. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador, o proponente desta homenagem, Ver. Luiz Braz, que falará pela sua Bancada, o PTB, e pelas Bancadas do PDT, PT, PMDB, PPS e PC do B.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal, Ver. Wilton Araújo; Exmo Sr. Nilo Salatino, nosso homenageado, e Srª Dorilda Machado Salatino, por extensão da Mesa, estão aqui para homenagear o Dr. Nilo Salatino e que fazem parte, também, da homenagem, como é o caso dos filhos do homenageado: José Maria, Nilda Maria e Fernando; os netos do homenageado: Marcelo, Jeferson e Renan.

Eu quero ressaltar que os dois oradores que estiveram falando, aqui nesta tribuna, em nome da Casa, em nome de suas Bancadas, são Vereadores da atualidade, com a maior qualidade possível. Representam com muita dignidade, com muita altivez os segmentos que os trouxeram para cá.

Faço questão de fazer esse registro porque um deles, ex-Prefeito dessa Cidade, representa esta Cidade com muita altivez e, o outro, ex-Governador do nosso Estado. Então, hoje, esta Sessão não poderia começar melhor, com dois pronunciamentos de duas grandes autoridades como é o caso do Dr. João Dib e do Dr. Jair Soares.

Nós estamos, hoje, aqui, prestando esta homenagem singela, concedendo o Título Honorífico de Cidadão Emérito do Município de Porto Alegre ao Dr. Nilo Salatino. Seria desnecessário citar as inúmeras qualidades do homenageado, mas nunca é demais lembrar que o perfil desse homem, associado as suas realizações desenvolvidas ao longo do tempo, nos levaram a acreditar na culminância de um grande projeto de vida, mas não o foi. O Dr. Nilo continuou a servir à comunidade através do Clube de Serviços em Santa Flora e continua assim sua vida. Ora, se todas as pessoas pensassem e agissem como o Dr. Nilo Salatino, é claro que teríamos um mundo bem melhor, sob todos os aspectos, mas não é assim. Nós vivemos em uma época em que muitas pessoas, ao elaborarem o seu plano de vida, na qual alguns atingem e outros não a meta proposta, mantém uma preocupação voltada para realização individual, egoísta, indiferente à coletividade, maneira essa de viver com a qual não concordou o Dr. Nilo.

A nossa homenagem é apenas uma entre tantas já recebidas pelo Dr. Nilo que sempre acumulou a gratidão e reconhecimento de seu trabalho por todos onde passou, sendo pessoa muito respeitada, nos diversos segmentos da sociedade na qual sempre teve alguma atuação, quer na área social, esportiva, profissional ou comunitária. Dr. Nilo, queremos que a data de hoje tenha um grande significado para o senhor, mas é preciso salientar que esta Casa, que é a representação política e democrática da nossa Cidade, está apenas colocando mais uma pedra na imensa obra já realizada pelo senhor. Teríamos muita coisa para relatar e entre tantas e boas opções, escolhemos, para melhor caracterizar o nosso homenageado, a sua vida profissional como médico. Excelente profissional na área de saúde, nos fez retroceder um pouco no tempo relembrando aquela figura tradicional do médico de família que acompanhava por várias gerações, conhecendo os seus membros pelo nome e o exemplo de dedicação. Pois essa relação, hoje em dia, médico-paciente é simplesmente substituída por folhas computadorizadas e repletas de espaços que são preenchidos por números, mas isso é passado e o que importa no momento é o presente e como é belo poder parar, olhar atrás, contemplar um ideal atingido, voltar-se e retomar a caminhada com a cabeça erguida, atitude essa própria dos grandes seres humanos. Dr. Nilo, quando a jornada começou o horizonte estava longe e sabia-se que irias encontrar muitos obstáculos em sua missão e a maior glória a ser atingida por um grande realizador é a de saber trilhar esse caminho, sobrepondo-se as pétalas sem machucá-las e afastando os espinhos sem ferir ninguém. A isso podemos chamar de missão cumprida! Senhores, não estamos diante da perfeição, sim à frente de quem sabia o que queria, soube fazer e hoje aqui está para mais uma vez ter a tarefa reconhecida, o que fazemos com muito apreço, estima e consideração, representando tudo isso através do Título que concedemos.

Dr. Nilo, do tudo que temos; do nada que somos, ainda nos resta uma esperança, a esperança de que a humanidade ainda encontre grandes homens como o senhor é. Hoje, quando o paciente é apenas um número e o médico aquele profissional que lhe concede alguns minutos para pedir exames ou encaminhar a um especialista, quando os generalistas são tão raros, quanto mais os humanistas, é comovente encontrar uma pessoa como o Dr. Nilo Salatino. Simples, bom e competente. Uma figura aparentemente frágil como daqueles médicos dos romances ingleses, que saíam de maleta para visitar os pacientes curando o crupe e ao mesmo tempo fazendo partos. Há um médico assim no livro “Sob a Luz das Estrelas”, de James Hilton. Hoje são tão poucos os médicos que trabalham sob a luz das estrelas, movidos pela técnica, servidos por um computador, são raros os homens que ainda se detém a ouvir, que ainda “perdem” tempo no mundo mercantilista, frio, impenetrável, impessoal e o Dr. Nilo Salatino é aquele que pára, ouve, escuta e sabe ouvir. Nilo Salatino, 67 anos de idade, mais de 40 anos de dedicação à família e a medicina; cursou os colégios Anchieta e Júlio de Castilhos; formou-se na Faculdade de Medicina da UFRGS, foi plantonista do Pronto Socorro e do antigo Sandu. Em 1957 foi aprovado em concurso público para licenciar-se na cadeira de pediatria da Faculdade de Medicina, conquistando o primeiro lugar, e ingressando em 1960 na Secretaria de Saúde do Estado. Na Secretaria de Saúde, foi chefe do Posto de Saúde de Viamão em 1961/1962, Pediatra do Posto de Saúde de são José do Murialdo em 1963/1966, Médico-Chefe da Unidade Sanitária Nonoai em 1966/1970 e do Menino Deus, para, finalmente, chefiar a Unidade Sanitária da Tristeza em 1971, atendendo inclusive os postos avançados do Jardim das Palmeiras, da Vila São Vicente Mártir, da Cidade de Deus e João Calábria. Exerceu, também, as funções de Médico Assistente da SFAM e do Círculo Operário Porto-Alegrense. Foi ainda Médico Pediatra da antiga Guarda Civil, atualmente UGAPOCI, onde desempenhou as funções de Diretor de Departamento Médico por 14 anos. Iniciou sua clínica particular no antigo Erexim Futebol Clube, hoje denominado Nonoai Tênis Clube, do qual foi Presidente por dois mandatos. Foi o primeiro mandatário da Associação dos Amigos do bairro Nonoai, criado em 1959. Neste mesmo ano, batalhou junto com os outros companheiros para a fundação do bairro Nonoai, legitimado através da Lei nº 2022 da Câmara de Vereadores, na gestão do Prefeito Loureiro da Silva. Pertence e é fiel aos princípios do Clube de Serviços Lions Santa Flora. Analisando o trabalho realizado pelo Dr. Nilo Salatino, nos emocionamos, porque este homem, no sentido integral da palavra, nunca andou para trás. É autêntico, honesto, simples, modesto, só se orgulhando diante das glórias que a comunidade lhe outorgou. É por isso que acreditamos ser justa a homenagem que ora estamos prestando ao Dr. Nilo. Eu vou pedir licença ao meu Presidente, Ver. Wilton Araújo, que sei ser um homem que gosta de cumprir com todos os protocolos da Casa, mas como são muitos os amigos do Dr. Nilo Salatino, e o meu amigo Dr. João Dib já dizia muito bem: são muitos os que gostariam de estar aqui, nesta tribuna, fazendo esta homenagem ao Dr. Nilo, dizendo daquilo que estariam sentindo neste momento em que estamos homenageando o Dr. Nilo, vou pedir licença ao Presidente e aos demais presentes nesta homenagem, e vou convidar, antes de encerrar meu pronunciamento, para vir, junto comigo nesta tribuna, uma pessoa que tem uma adoração, uma veneração muito grande pelo Dr. Nilo, que me acompanha há muitos anos no trabalho que realizamos na comunidade. Falo da minha querida amiga Ruthinha, ela que é uma das grandes lideranças do movimento comunitário chamado Movimento dos Clubes de Mães. Faço questão de pedir aos senhores que, por favor, aplaudam, porque ela merece pelo trabalho que realiza e pela estima que tem pelo Dr. Nilo, representando os amigos do Dr. Nilo nesta homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. RUTH RICARDO BRUM: Sr. Presidente e Senhoras e Senhores que fazem parte desta Mesa, ao receber este convite pelo correio, fiquei emocionada, olhando-o, porque neste convite tem o nome de três pessoas que me são especialmente caras: do Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Wilton Araújo, que acompanho há muitos anos; Dr. Nilo Salatino, médico e amigo; e do meu chefe, Ver. Luiz Braz. Vou emoldurar este convite para guardá-lo entre os meus tesouros.

Quero dizer ao Dr. Nilo Salatino que estou aqui para saudá-lo em nome de todas as mães, que bateram em sua porta, tendo nos braços um filho doente. Querido amigo, foste companheiro nas horas mais amargas de centenas, de milhares de mães. Dr. Nilo, lembra-se dos meses de julho e agosto, quando chamado, a qualquer hora, medicavas e ficavas esperando, ao lado do paciente, até que o remédio começasse a fazer efeito. Depois, acalmava as mães e saías sem receber, pois tua profissão também é um sacerdócio. Obrigada pelas internações na Santa Casa. Obrigada pelo ânimo, pelo consolo, pela amizade.

É divino até no nome: Dr. Nilo Divino Salatino.

Neste momento, todos a quem ajudaste se curvam diante da tua capacidade de doação: exemplo de vida.

Obrigada querido amigo. Eu especialmente lhe devo muito.(Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. LUIZ BRAZ: Com essas palavras tão especiais da Ruth, do Movimento do Clube de Mães, aliás, está presente, também, e ex-Presidente do CGM - Conselho Geral de Clube de Mães - a minha amiga Nilsa Corau, que é, atualmente, Presidente do Clube de Mães São Luiz. Ela também tem uma devoção toda especial ao Dr. Nilo Salatino. Um abraço para você Nilza que tão bem representa este movimento dos Clubes de Mães. A você Nilo, de todo o coração, esta homenagem, uma das mais justas homenagens que esta Câmara poderia prestar. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: É um prazer para esta Casa registrar as presenças dos ex-Vereadores Ervino Besson e Frederico Barbosa, eternos colegas da Casa.

Neste momento a casa do povo de Porto Alegre formaliza o trabalho, o reconhecimento do trabalho, a contribuição que o Dr. Nilo deu à Cidade de Porto Alegre, e este fato fez com que a Câmara assim se pronunciasse por todos os seus Vereadores.

Neste momento mais solene da nossa Sessão, faremos a entrega do diploma de Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre ao Dr. Nilo Salatino.

 

(É efetuada a entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

Vamos conceder a palavra ao novo Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre, Dr. Nilo Salatino.

 

O SR. NILO SALATINO: Exmo Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Wilton Araújo, Vereadores Jair Soares, João Dib, Luiz Braz, que é o pai da criança, o pediatra aqui; meus parentes, minha esposa, meus filhos, netos, todos os meus amigos; todos aqueles que me apreciam, aos quais eu também aprecio, sabendo que aqueles que não estão presentes fisicamente, estão, de certa forma, tenho certeza, espiritualmente. Eu pergunto a vocês todos, sonho ou realidade? É uma realidade. Às vezes, a gente pensa que as coisas que passam pela imaginação não existem. Mas eu me recordo das aulas do Júlio de Castilhos, o Prof. Carrion, tio do Dep. Carrion, que perguntava se existia realmente o sorriso de uma gravata ou o olhar de uma caneta. E os alunos do Júlio de Castilhos, 2° grau, respondiam que não. E ele dizia que existe, existe porque passaram pela nossa imaginação. A diferença, meus amigos e minhas amigas, entre sonho e realidade, entre ilusão e desilusão, entre ideal e utopia, às vezes, a diferença não é muito grande, não há uma fronteira nítida, como eu costumo dizer entre estas coisas. O meu lema, que o Ver. Luiz Braz esteve lendo a minha história, o jornalzinho “A Conquista”, o meu curriculum, enfim, o jornal “A Conquista” para a qual eu escrevo como jornalista amador há 15 anos, o meu lema é o seguinte: “Medium Virtus”. No ginásio Anchieta, o qual eu cursei desde o primário, morava aqui na Rua do Arvoredo, na Cel. Fernando Machado, e ia a pé com as mãos geladas, roxas de frio, naqueles invernos inclementes de 46, 50 anos atrás. Segundo a imprensa noticiou, há 46 anos não fazia inverno como este. O nosso lema, na 5° série, quando terminamos o Curso de Humanidades, que agora é o 1° grau, o nosso lema, está lá no quadro da formatura lá no Ginásio Anchieta, nas Três Figueiras, era “Virtus et Ciencia”, na parte técnica, científica no estudo. Mas, para a vida comunitária, para a convivência sadia, nós achamos que o melhor lema que pode existir é “No Meio a Virtude”. Os extremos se tocam, assim como o ódio e as paixões muito violentas. Na realidade, o que deve haver é o carinho, é o amor suave, é o entendimento, é o equilíbrio. Então, eu digo isto, meus amigos e minhas amigas, para expor porque eu acho que me escolheram para Cidadão Emérito de Porto Alegre e me concederem, graças à bondade desta Câmara de Vereadores, desta equipe maravilhosa de Vereadores do Município de Porto Alegre, este título tão honroso para mim, quando acho que, na realidade - isto não é falsa modéstia - têm muitas e muitas pessoas que merecem provavelmente mais do que eu. Esta humildade é boa e interessante. A verdade é que muitos não foram pinçados, seu trabalho não foi divulgado, não houve informações, não chegou ao conhecimento dos Vereadores; nem todos podem chegar, mas tem muita gente boa por aí que merece. Como também a classe política, que às vezes fica desprestigiada por causa de episódios de falcatruas e corrupções que alguns praticam. Costumam generalizar, quando, na verdade, temos bons políticos, honestos, idealistas, que muitas vezes não dormem nem duas ou três horas por dia, dedicando-se às suas tarefas, às comunidades e às necessidades do povo. Não podemos generalizar, julgar todos por um. Na classe médica há profissionais que não prestam, não são honestos e não têm dignidade; têm na classe jurídica, junto aos economistas, motoristas, comerciantes ou empresários. Mas são 5, 10 ou 15%; não podemos generalizar.

Quero contar apenas dois episódios, para que vocês aqui presentes possam aferir a importância de uma e de muitas vidas de muitas pessoas que são assim como eu ou até melhores do que eu. Há muitos anos atrás, lá pela década de 60, eu trabalhava no São José de Murialdo. A meio caminho entre a minha residência e o hospital furou um pneu do meu carro, na Aparício Borges. Estava chuviscando, e eu, me molhando, não consegui fazer funcionar o macaco para levantar o carro e trocar o pneu. Chegou, então, um senhor moço, vestido humildemente e perguntou: “Comé, doutor? Apertado aí? O que houve?” quando lhe disse que o macaco não funcionava, o cidadão prontamente fez funcionar o mesmo e trocou o pneu para mim. Aí coloquei a mão no bolso e perguntei-lhe: “Quanto é que lhe devo?” Ele disse: “Não, não. Há uns seis ou sete anos atrás o senhor salvou meu filho que estava com pneumonia, baixou na Santa Casa, curou-o, esteve na minha residência - lá em cima no Rua Orfanatrófio - e, como não tinha dinheiro, não lhe paguei. “Eu disse: “Então, estamos quites.” Ele respondeu: “Não, eu ainda fico lhe devendo. O que o senhor fez por mim teve muito mais valor que a troca do pneu. Eu disse que as coisas afetivas não se medem pelo tamanho material, pelo peso da matéria, e sim pelo valor espiritual que tem. O homem foi grato, anos após ele foi retribuir, jamais esperava isso.

A outra interessante no exercício da pediatria, anos atrás, no posto de Saúde da Tristeza, eu estava na minha sala, e ouvi alguém dizer que queria consultar o Dr. Nilo Salatino, a pessoa que o atendeu respondeu que o Dr. Nilo era pediatra, este sujeito era alto, bem mais alto do que eu, deveria ter 28 anos, ele respondeu: “Pois é ele o meu pediatra.” Eu o atendia desde pequenino, desde que nasceu. É a questão da confiança, que falou o Ver. Luiz Braz, o sujeito continua pediatra por toda a vida. Eu já fui pediatra do Itamar Fernandes de Souza, o nosso Delegado, que me chamou na casa dele, tinha problemas musculares, eu o curei. A esposa dele me disse que falou para o Itamar que o Salatino é pediatra, como é que tu o chamaste, mas ele disse: “Se ele consegue fazer o diagnóstico e curar uma criança de meses que não sabe falar, muito mais fácil curar um adulto.” O Itamar tinha razão. Quero agradecer, principalmente ao Ver. Luiz Braz, isto que é importante, e a toda Câmara de Vereadores na pessoa do Sr. Presidente, do companheiro Wilton Araújo, esse trabalho magnífico que vocês fizeram, que em todo o caso vem me enaltecer, vem me colocar em dívida com a sociedade. Se eu já fiz alguma coisa aqui, o que não era mais do que a minha obrigação, e fi-lo com prazer, como diria o falecido Jânio Quadros, eu daqui para frente terei que fazer mais ainda para resgatar essa homenagem que vocês me prestam hoje.

Para encerrar, gosto muito de poesia, para que a gente continue sempre ajudando os outros, sem interesse pessoal, sem a pretensão de conseguir lucros materiais, continuar ajudando àquelas pessoas que estão envelhecendo, isto serve para os jovens, que vão indo, percorrendo os mesmos caminhos, seguindo como disse o Ver. João Dib e outros, aqui na tribuna, que os meus filhos e o meus netos, as filhas, enfim, todos procurem, e vocês também, seguir este caminho. Se eu pudesse dar alguma receita, algum conselho, seria este, o soneto de Olavo Bilac “As Velhas Árvores”: “Olha estas velhas árvores, mais belas do que aquelas, tanto mais belas quanto mais antigas, vencedoras da idade as procelas; o homem a fere, o inseto, à sombra delas vive livre de fome e fadiga e em seus galhos abrigam-se as cantigas e os amores das árvores tagarelas. Não choremos, amigo, à mocidade; envelheçamos rindo, envelheçamos como as árvores fortes envelhecem na glória da alegria e da bondade, agasalhando os pássaros nos ramos, dando sombra e consola aos que padecem.” Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Câmara Municipal gostaria de fazer uma homenagem especial. Não é comum, mas nesse caso nós faremos uma homenagem especial à companheira, àquela pessoa que durante toda a vida dividiu com o Dr. Nilo Salatino os bons, os maus e os médios momentos e deu amparo e a dedicação para esse homem, esse Cidadão Emérito pudesse, hoje, ser reconhecido pela sociedade. Solicitaria que a Dona Ruth, que já nos brindou com algumas palavras, fizesse a entrega do buquê de flores à Dorilda Machado Salatino.

(É feita a entrega do buquê.)

 

Estes são os momentos mais belos que a Câmara Municipal vive, quando se inter-relaciona com a sua comunidade, com aqueles homens que nos fazem ser a sua imagem e nos ilumina o caminho, nos dão o rumo, nos dão o norte. A Cidade e a Câmara, a Casa do Povo de Porto Alegre, estão em festa porque reconhecem e sabem e têm a certeza que redobram as responsabilidades do novo Cidadão Emérito, redobram. Tenho certeza de que Porto Alegre vai ter, daqui para frente, um Cidadão Emérito que se dedicará, se possível for, mais ainda. Porto Alegre está de parabéns e nós todos, representantes do povo, seus amigos, e cidadãos da Cidade estamos também de parabéns. É um dos momentos mais lindos e a Câmara Municipal está agradecida pela presença de todos vocês. Muito obrigado e encerramos os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 17h06min.)

 

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